just like heaven

Tudo parece ousado àquele que a nada se atreve, por isso... atreva-se!

10 novembro 2009

sobre dor e medo (pensando em alguém)

sobre a dor e o medo: eu acho que a vida é como o mar. exatamente como o mar. é linda, azul, maravilhosa. é quente, reconfortante, cheirosa, tem cores (e peixinhos! e surpresas!) aos montes. é grande e imensa. é casa. é desafio. é limite. é felicidade. é ondas. é plenitude. é união. e as pessoas vêem na vida aquilo que vêem no mar. alguns gostam, outros não. alguns aproveitam, outros não. alguns enfrentam, outros não. alguns nadam, outros velejam, outros apenas olham de longe. eu me jogo. sempre me joguei. faz parte da minha personalidade, sabe? amo o mar assim como amo a vida. além disso, sou curiosíssima e gosto de fuçar o desconhecido. assim, entro no mar e depois vejo no que vai dar. claro que se as ondas estiverem imensas, eu espero um pouco antes de me aventurar. não gosto de riscos grandes demais. mas, se eu achar que posso encarar o que vejo, entro na água, com ondas ou sem ondas, porque quero sentir o gosto e o balançar de cada mar que encontro. quero sentir. quero descobrir. não só o mar, mas a vida. gosto de enfrentar os medos e acho que é pra isso que eles servem. e se eu achar que depois da onda que pode me machucar há montes de peixinhos, eu atravesso a onda, porque eu quero ver as cores dos peixes. quero brincar e nadar com os peixes. se eu pudesse, eu iria querer morar ali embaixo d'água, no meio do mar.

não entendeu? explico: a vida como eu vejo/sinto/penso é feita de saciar curiosidades, de romper barreiras, de sorrir com as pequeninas novidades, de nadar sempre em busca dos peixinhos amigos e dos novos peixinhos e das ondas e do balanço e da paz. eu me jogo nisso, sempre. gosto não só do encontro, mas da busca. da eterna busca. porque depois que a gente encontra o que busca, surgem mais mil coisas pra buscar dentro daquilo. como quando a gente encontra uma casa nova e, findada a busca pela casa, começa a procura pela decoração que queremos, pela atmosfera que sonhamos, pelas pessoas que desejamos que estejam ali compartilhando a casa e os projetos e as vontades com a gente. toda busca termina num encontro que resulta em muitas outras buscas, e pra mim a vida é feita disso: de se divertir e ser feliz com todas as procuras e todos os encontros. cada busca encerra dentro de si a possibilidade de dor. sempre. a dor de não se encontrar o que quer. a dor de pensar que se encontrou algo valioso quando isso não aconteceu. a dor de se frustrar com o tempo gasto numa busca que pode parecer infrutífera. a dor de querer desistir. há mil e vinte e duas coisas que podem dar errado em qualquer busca. ainda assim, eu JAMAIS consigo desistir de procurar. porque já achei muitas coisas, e sei o tamanho da alegria envolvida nisso. o tamanho da felicidade e da plenitude em encontrar um por-do-sol fantástico num dia de verão completo. a sensação de união com tudo ao acordar num dia gostoso depois de um sonho bom. o sorriso incessante ao estar do lado de quem se ama. a delícia de um abraço que me transporta pra casa sem que eu esteja lá. o incrível sentimento desperto quando consigo entrar e viver e respirar uma música sensacional. a vontade de fazer as pessoas todas tão felizes quanto eu me sinto quando cada pequena busca se transforma em encontro. e é por isso que eu me jogo. me jogo em direção da possibilidade de dor porque a beleza e o encantamento e a felicidade que podem advir desse ato são imensos! e, se eu puder ter essas coisas, de que importa a dor? eu gosto das dores que dão frutos coloridos e cheirosos e deliciosos.

o porém: só que não consigo ser uma pessoa inconsequente. o fogo é lindo e dá vontade de pegar, mas logo que percebemos que ele nos queima, nos contentamos em olhar pra ele sem tocá-lo, né? por mais bonitas que sejam as chamas, a dor de encostar nelas faz com que qualquer beleza/encantamento/felicidade envolvidos não compensem. porque a dor é muito maior do que qualquer recompensa neste caso. nessas horas eu paro de me jogar. experimento de tudo, com a minha curiosidade incansável e inesgotável, mas se dói demais, me viro pro lado e vou experimentar outras coisas. não sei insistir em dor inconsequente, por mais persistente que eu seja. gosto de insistir nas dores que levam a algum lugar melhor; não nas que me podam/queimam/matam. tem dores que não valem ser enfrentadas, porque encerram apenas mais dores dentro de si, ao invés de alegrias e felicidades.

e então? então a gente tem que escolher a hora certa de entrar no mar pra aproveitar os peixinhos e o balanço das ondas, pra ser feliz. não entro na água se houver tempestade. se estiver frio demais. se as ondas forem maiores que eu. se alguém me alertar que ali naquele pedacinho do mar tem tubarão ou corrente forte. e assim é com a vida: a gente tem que saber escolher que batalhas quer lutar. que coisas quer encontrar. o que está disposto a perder, o quanto está disposto a se doer, o quanto se quer insistir em cada busca. eu sempre invisto tudo enquanto acredito que o caminho pode levar a algum lugar feliz. me jogo em qualquer precipício se houver a possibilidade de haver algo bacana ali embaixo. mas quando vejo que o caminho não me leva pra nada daquilo que busco, olho pro lado e sigo na busca do que realmente quero; não no caminho infrutífero. porque a vida é curta demais pra insistir nas coisas ruins. curta demais pra que a gente não seja feliz a cada passo, a cada respiração, a cada amanhecer e a cada vez que olha pro céu. curta demais pra insistir na dor que não leva a lugar algum. curta demais pra deixar de buscar aquilo que se quer pra valer.