just like heaven

Tudo parece ousado àquele que a nada se atreve, por isso... atreva-se!

01 outubro 2007

epopéia

No aeroporto de Recife por algumas horas, agora. Muitas horas, na verdade. Nove horas, pra ser mais exata. Tempo de sobra pra contar a minha epopéia. Como diria o pessoal do Castelo Rá-Tim-Bum, senta que lá vem história!

Pegue uma pessoa já fragilizada pelas circunstâncias de sua vida atual. Coloque essa pessoa num liquidificador de onde ela só sai depois de ser assaltada ao chegar na sua cidade. Ou iés, pode crer. Assim que cheguei na frente da casa da mamis, dentro de um táxi, chegaram dois caras numa moto que levaram TUDO o que estava comigo. Duas malas, bolsa, documentos, celular, computador, dinheiro, máquina fotográfica, carteira, iPod, cabos, roupas, sapato, presentes pra mãe de uma funcionária, aparelho dos dentes, comprimidinhos, maquiagem, secador de cabelo, tudo. Verdadeiramente tudo. Ou não, já que me deixaram com a roupa do corpo e com um celular, que por acaso estava no bolso da calça.

Imagine o meu susto. A minha desolação. Nessas horas, não adianta dizer que puxa, pelo menos eles não me fizeram mal algum. É verdade que não houve agressão física. Mas e a agressão psicológica? Dez e meia da noite, eu suuuper sonada. Não vi NADA. Marca da moto? Não sei. Cor do veículo? Escuro. E brilhante. Muito brilhante. A moto reluzia a nova. Ou a muita cera. Rosto dos agressores? Eles estavam de capacete. E os capacetes brilhavam mais que a moto. Sabe capacete sem nenhum arranhão? Raro de se ver. E foi nessas pequenas coisas que consegui reparar, apenas, enquanto os caras levavam a vida toda que eu trazia dentro das minhas malas e bolsa. Lembro dos olhos de um deles, que estava muito calmo e me desejou boa noite. Lembro das mãos do outro, porque as vi no momento em que ele tirava minha mala do carro. Lembro do brilho da arma prateada, e da sensação do peso dela na mão do cara. Lembro do sapato tipo 'dock-side' de um dos assaltantes, e do cadarço desamarrado do tênis do outro. Lembro do nervosismo do taxista, e de ter pensado, num primeiro momento, que os caras da moto queriam apenas alguma informação sobre caminho. Lembro de ter achado que puxa, se uma coisa assim me aconteceu, é porque provavelmente alguém está precisando mais das minhas coisas todas do que eu. E que preciso andar mais leve. E que espero que quem tenha ficado com tudo faça muito bom proveito das coisas. E que torço pra pelamordedeus não fazerem nada com todos os milhares de dados pessoais e profissionais que se foram junto com o computador. Lembro de ter ficado com pena de todo mundo ali. Pena dos caras, que alguma hora vão pagar muito caro pelo que vêm fazendo. Pena do taxista, que se envolveu nessa roubada sem querer. Pena de mim, que cheguei em casa carregando NADA na mão.

A cena toda ficou gravada não só na minha memória, mas na fita da segurança do prédio. Teve um morador do prédio que assistiu a tudo do seu apartamento e desceu pra não me deixar sozinha. Achei tão bonito, isso. Acho que ele nem imagina a força que me deu nessa hora. Porque me senti agredida, invadida, impotente, e sozinha. Muito só. O morador do 31 me fez companhia, e me disse que puxa, tem gente, sim, que se importa. E que está lá pra mim, mesmo sem saber quem sou.

Do celular que sobrou no meu bolso, liguei pra minha irmã. Porque a mãe não estava em casa, e todas as minhas chaves estavam na bolsa levada pelos ladrões. Liguei pra administradora do cartão de crédito, pensando que por esta exata possibilidade de assalto é que eu não tenho mais que um cartão. Subi pro apartamento 31, onde fui acolhida pelo casal de vizinhos da mamis. Desci quando a polícia chegou, depois de uns vinte minutos. A polícia que ouviu a história, mostrou todas as armas que tinha no carro (de dar medo, te conto desde já. De dar medo!), e me disse que um assalto assim só pode ser prevenido não pegando táxi sozinha no aeroporto de Guarulhos. Porque pessoas sozinhas ali normalmente vão pra SP a trabalho, e trazem consigo os laptops que os assaltantes adoram e tanto querem.

Assim que a puliça foissimbora, a Rê chegou, junto com o meu cunhado. E foi nessa hora que eu desabei. Olhei pra Rê e comecei a chorar. Porque com a Rê ali, eu não estava mais desamparada, e tinha alguém pra abraçar. Só de olhar pra mim, ela chorou também. E a gente se abraçou aertado e eu contei mais ou menos como foi que aconteceu tudo, e subimos com a chave da Rê pra casa da mãe. Agradeci ao vizinho de todo o meu coração, porque o que ele fez não tem preço. Não ter me deixado sozinha foi a melhor coisa que alguém podia ter feito por mim naquele momento, e não sei explicar até agora o quão bem esse senhor me fez, só de estar ali pra me dar um apoio moral. Peguei na mãe um secador de cabelo, uma cópia da chave da minha casa, uma cópia da chave da casa dela, e a chave do carro. A Rê me emprestou um documento dela, um cartão de débito, e dezenove reais. E fui pra casa. Sozinha.

Chegando no meu prédio, mais invasão. Eu tinha acabado de perder tudo o que eu trazia comigo, e percebi que nem a minha vaga de garagem estava desocupada, como deveria estar. Comecei a chorar porque, poxa, veja bem, eu era a fragilidade em pessoa naquela hora. Parei na frente do carro que estava na minha vaga, disse pro porteiro pra não me acordar no dia seguinte, e entrei no conforto do meu lar. Tomei banho, fui pra caminha mais deliciosa do universo (porque eu amo o meu cobertor e o meu travesseiro e tudo o mais), e dormi por 3 horas. Acordei de madrugada, revivi o assalto mil vezes na cabeça, e fiquei pensando no que me tinha sido tirado. Nada, na verdade. Apenas coisas. Se eu pudesse escolher, teria ficado apenas com o meu aparelho dos dentes e com as fotos que ainda não tinham sido becapeadas. Sim, porque isso foi o que mais doeu perder.

Levantei da cama junto com o nascer do sol, lavei o rosto, sequei o cabelo, e fui fazer o B.O. Demorou. E chorei MUITO na delegacia. Muito. Mas extremamente muito. Solidão, solidão, solidão e impotência. Como somos frágeis! Como nos enganamos achando que podemos e controlamos montes de coisas! E chorei e chorei e chorei. E levei a minha cópia do B.O., meu único documento. E fui pro cabeleireiro, que já estava marcado há tempos. E corta e hidrata o cabelo, eu com a maior cara de sono, os olhos muito vermelhos da falta de sono e do excesso de choro. Saindo dali, fui ao banco, porque precisava de algum dinheiro. Demorou, mas graças ao gerente da agência da ilha, que me conhece e disse pra funcionária do banco daqui pra cuidar muito bem de mim porque sou uma pessoa muito querida lá (e nessa hora eu chorei no banco), consegui fazer um saque sem documento algum que não fosse o B.O. Cabelo pronto, dinheiro no bolso, fui atrás de uma nova via da carteira de motorista. Graças ao meu cunhadinho, paguei uma graninha pro despachante e menos de 48hs depois a CNH já estava na minha mão. Foto com os olhos vermeeelhos! E vamos pro shopping, comprar bolsa e carteira, porque é muito humilhante andar com uma sacolinha plástica de supermercado contendo os meus muito poucos pertences. Comprei também um carregador pro celular, e o básico do básico pra poder fazer uma maquiagem mais ou menos, porque a reunião com os sócios de onde trabalho era no dia seguinte, quinta-feira. A roupa da reunião estava na mala, mas graças aos céus, roupa de inverno é o que não falta na casa daqui. Cansada, muito cansada, lembrei de comer antes de ir embora. Consegui engolir meio sanduíche, além de um frappuccino de chá verde. E fui pra casa, onde organizei as compras, coloquei o despertador pra hora certa, tomei banho, e desmaiei na cama.

Banho, secador, maquiagem, roupa bonitinha, reunião. Foi ótima, a reunião. Restaurou bem o meu ânimo e a minha confiança, além da minha auto-estima que, convenhamos, estava bem baixinha com todos os acontecimentos recentes. Tomei chocolate quente, e fui pra casa trocar de roupa e tirar a maquiagem. Dali, fui pra mamis. Acessei a internet, li os e-mails, fiquei preocupada com as coisas na ilha. Fui até o stand center, comprei mídia virgem, dois presentinhos, e uma máquina fotográfica nova. Achei que tenho MUITA sorte por poder recomprar grande parte das coisas que me foram levadas. Na próxima viagem, se tudo der certo, quero levar um iPod pra casa. Saindo do paraíso da pirataria em Sampa, comi num japonês que adoro e fica quase que na esquina de casa. Comida que me traz paz, a japonesa. E voltei pra casa, onde tomei um suuuuper banho de banheira, pra relaxar! Delícia, delícia! Velinhas, sais cheirosíssimos, água quentinha... Dormi melhor e mais reconfortada.

Sexta-feira. Dia de comprar computador novo. Uma manhã inteira pra isso, por causa das burocracias todas que existem nesta vida. Lindo e pesadíssimo, o computador novo. Não quero nunca viajar com ele. Porque quem é que apaga o trauma de ver TUDO sendo levado embora, sem poder fazer nada? Ai. Fiquei sabendo que o curso que eu tanto queria fazer, e que iria acontecer no finde, tinha sido cancelado. De tarde peguei a habilitação, comprei capa e mouse pro computer, duas calças jeans (pra tentar compensar as quatro que estavam na mala roubada), e encontrei as meninas mais que queridas praquilo que foi o meu melhor programa da viagem: o mosquetencontro! Comemos batata frita com cheddar picante e bacon, e vários sorvetes (eu sozinha comi dois, um com nutella e calda de frutas vermelhas, e outro com calda de chocolate, farofa,e chantilly, que eu amodoro os frozen yogurts do America). Contamos as novidades e vimos as fotos da viagem da Juju e tiramos fotos com a super máquina da Shi que o Zumk levou. E foi tudo tão, tão gostoso! Se eu pudesse, eu encontrava com as meninas todos os dias! :-) Olha as fotinhas legais aqui, olha, olha! :-D

E sábado sem curso foi dia de comprar mais um pouquinho de maquiagem. E levar o celular pra ver o que tinha de errado com ele, e comprar bateria nova. Dali, voltei pro cabeleireiro. Bora fazer um trem cujo nome eu não lembro mais, pra deixar os cabelos lisinhos? Bora! Agora já faz... hum... deixa eu ver... 30 horas que não lavo os cabelos. Faltam mais 42 e não sei como vai ser isso, porque meu couro cabeludo é mega oleoso, o que faz com que eu lave a cabeleira absolutamente todos os dias. Mas enfins. Acredita que ninguém me disse que eu não poderia lavar o cabelo, acredita? Me disseram só depois que eu já tinha feito e pago tudo! Pode, uma coisa dessas? Mas parece que vai ficar bom, pelo menos. Saí já tarde do salão, fui pro America pra instalar umas coisinhas no computador usando o wi-fi de lá (e comi mais batata e mais sorvete, sim, senhor!), e passei no super (mercado) antes de voltar pra casa.

Me empolguei numa conversa ao telefone no sábado à noite, e fui dormir à 1 da manhã. Acordei às 4:15, pra poder buscar a mamis no aeroporto. Conheci o namo da mãe, e ela chegou bem. Deixei os dois na casa dela, e ganhei uma mala de presente (êba! Eu estava MESMO precisando, porque as minhas duas malas... well... foram prum outro dono, digamos assim ;-)). A idéia era voltar pra casa pra dormir um pouquinho, mas... tanta coisa pra fazer, né? Gravei alguns arquivos do Mac (mp3) pra poder passar pro PC novo, arrumei a única mala, lavei roupa, dei uma cochilada de uma horinha, banhei beeeem gostoso, e fui pro cine. Que é pecado ir pruma cidade onde exista cinema e não assistir nenhum filme, né? Fui ver Next e comer pipoca e mentos de frutinhas. Eu adoro o Nicholas Cage, adoro, adoro, mas ainda assim o filme é legal, mas não tão legal assim. E acaba o filme e eu vou pra casa terminar de arrumar as roupas que já estavam lavadas e secadas a esta altura. Fechei a mala, arrumei a bolsinha, decidi como melhor levar as coisas, coloquei tudo no carro, me despedi de casa, e voltei pro shopping, com o computador, pra terminar algumas instalações e acessar o e-mail. Delícia, o frozen yogurt com calda de banana caramelada do America! Nham! Comprei uma mochila pra levar o computer bem disfarçadinho, e fui pra casa da mãe, deixar o carro lá. Peguei as calças com as barras feitas na costureira, deixei um vaso de gérberas pro casal do 31, e terminei de arrumar a mala já na casa da mamis. Jantei japonês com a mãe, o namo, a filha do namo, a Rê, e o tio Gugu. Gostei :-) O cunhadinho e a irmãzinha me levaram pro aeroporto, onde terminei de instalar tudo o que eu mais precisava neste computadorzinho novo, acessei o e-mail, e embarquei num vôo rápido até aqui. Dormi BEM na vinda pra cá, acredita? Mesmo assim, são só 3 horas de sono, de novo! O suficiente pra me deixar bêbada de sono, meio lesada, lenta, e chata.

Terminado este texto, vou ver episódios do Lost, que comprei de novo lá no stand center porque também estavam na bolsa que foi roubada. E esperar mais um pouquinho, que logo tá na hora de comprar a passagem pra ilha, e depois de fazer o check-in, e depois de embarcar. Não vejo a hora de tomar um bom banho e me jogar na cama! :-D