just like heaven

Tudo parece ousado àquele que a nada se atreve, por isso... atreva-se!

12 setembro 2005

Mais reflexões

Hoje à noite, ligamos o Skype e ficamos mais de meia hora trabalhando concentrados nos respectivos computadores, sem conversar, ouvindo a presença do outro através dos sons dos teclados e mouses captados por nossos microfones. Cada rangido da cadeira e cada sirene distante de ambulância era perfeitamente audível do outro lado. Quando abri um pacote de biscoitos, ela pediu para provar um pedaço.

Em um post memorável da mesma época em que nos conhecemos, minha amada disse que às vezes a intimidade de um casal se revela nos seus silêncios, tanto quanto nas conversas. Relembrando nossos dois anos juntos, sempre fomos bastante tagarelas, preenchendo o espaço com conversas, carinhos verbais e muita música.

Mas durante este nosso chat silencioso, eu tive a sensação da sua respiração, de sua leveza e até do seu calor através do meu monitor, num espaço imediato imaginário criado pelos sons transmitidos digitalmente em tempo real, nos seus menores detalhes. Creio que se estivéssemos usando webcams a sensação de presença não seria tão intensa.

A Drídri, que não tem tido tempo nem de postar aqui, me respondeu o post de ontem por email, com todos os elogios fofos do mundo... Descreveu as suas próprias sensações e saudades, e em relação ao meu texto, destacou que eu falei muito dela e de nós dois e pouco sobre mim... Então lá vai. Um pouco do que sou hoje.

Não me sinto tão à vontade assim pra discutir os assuntos que levantei abaixo. Traz uma sensação de desnudamento desconfortável. Mas busco o desnudamento deliberadamente, então por que isso? Quando começamos o namoro, eu já tinha dois anos e meio de blog sem um único post sobre minha intimidade. Ao me tornar o Sr. Patamoma :-) e entrar no JLH, mudei radicalmente; passei a falar só de intimidade. De uma hora para a outra, mas como se tivesse sempre feito isso. Movido pelas emoções e pelo amor, surgiu uma necessidade interior de mudar de Mario-debatedor para Mario-sentimento, de Mario-crítico para Mario-lírico.

A parte desconfortável é que através de um site, mesmo sendo ele feito para isso mesmo, parece haver sempre um monte de gente apenas observando em silêncio. Não sei o que pensam, não sei como me julgam, não sei que idéias podem ter tido diferentemente das minhas. Insights que me faltam, conexões lógicas que não fiz, sentimentos que não percebi. Não chego a conhecer nada disso. Não me escrevem emails comentando. E nem o peço. A Drídri sempre me repassa entusiasmada os emails de comentários sobre o JLH, mas eles naturalmente são dirigidos sempre a ela... e são muito raros.

Uma coisa que sempre me causou um determinado medo é o de eu ser o último a enxergar as coisas mais óbvias. Já aconteceu tantas vezes na minha vida que cansei de reparar. Tenho capacidade de raciocinar sobre as coisas, mas só depois que aconteceram. Às vezes, tão depois que a conclusão não me serve de nada. No preciso momento do fato sou um sem-noção. Sempre me senti assim, um tanto descolado da realidade. Sempre precisei de alguém que me puxasse de volta da minha Matrix. Embora digam que o amor ou a paixão (que são coisas diferentes, mas podem coexistir belamente) deixa as pessoas bobas, a Adri me faz sentir mais real, mais capaz de entender a vida. É mais uma face da nossa complementaridade.

Ah, voltei a falar da Adri, de nós dois e não de mim mesmo... Previsível. :-P

O que mais posso dizer, querida pequena, senão, novamente, que os nossos sentimentos são mútuos? Também sinto a sua falta para compartilhar todas as pequenas e grandes impressões. Tenho de você a mesma fome que você tem de mim. A mesma admiração e motivação. A mesma compreensão e amor sempre crescentes.