Paixão recrescente
A Adri chegaria ao redor de 8:30h de sexta. Peguei a quinta de folga, mas fui à empresa por meio período para resolver um problema urgente de pautar ilustradores para uma das revistas e aproveitei para almoçar com os colegas de trabalho. À tarde, caminhei pela Avenida Paulista, meditativo.
Não dormi na noite de quinta para sexta. Às 6:30 estava batendo à porta da sogra; ela e o sogro estavam prontos.
Chegamos cedo demais em relação ao horário do avião que parecia ser o da Adri. Matamos o tempo numa cafeteria, ignorando que ela já tinha chegado num outro avião e estranhado de não ver ninguém na sala de recepção. O café da manhã foi uma sensação surreal; eu parecia estar flutuando num outro mundo, e não era devido ao sono. Depois de três meses só, Adri estaria nos meus braços em poucos minutos, mas eu mantinha uma calma surpreendente. A ansiedade tinha me esgotado e agora só restava deixar o tempo passar.
Passamos algum tempo esperando numa sala VIP, onde finalmente cochilei num dos sofás, dormindo sentado de boca aberta.
Na área de recepção, sentei-me num estado hipnótico, decidido a desvelar a pequena silhueta da Adri na distância. Mas após um brevíssimo instante de distração minha olhando sonolentamente o teto, ela se materializou na minha frente, pronta e sorridente com seu carrinho de bagagem. Nos abraçamos e então dei a câmera para os sogros nos fotografarem juntos ali mesmo.
A sensação de ter Adri de volta foi repousante, de paz, de completude e finalidade. Sentir sua cabeça de cabelos curtos apoiada no meu peito e envolver seus ombros delicados com meus braços é algo certo, justo e perfeito.
Me senti inteiramente vivo novamente, enxergando cores saturadas e belas após três meses de bege e cinza. Piadas, conversas, beijos, declarações de amor sussurradas no ouvido, olhares cúmplices. Não parecia em nada que ela vinha de um dia inteiro de viagem estafante, boa parte dela estudando livros da universidade, após uma semana adiantando trabalhos à custa de preciosas horas de sono.
A paz tinha me escapado durante os primeiros três meses de espera, e eu sabia que desde sua partida na noite de domingo até seu retorno no Natal, eu passaria por novo tormento, sofrendo solitariamente em casa e me derramando nos ombros de amigos. Só que neste fim de semana eu não pensaria em tristeza e aproveitaria cada milissegundo em sua companhia.
Mas nos três dias a dor da separação prolongada bateu muito forte algumas vezes. A pior foi na noite de sábado, na escuridão do quarto de dormir.
Foi estranho, porém muito real, viver esses dias juntos inebriados de felicidade e intoxicados de dor ao mesmo tempo. Aliás, ainda me sinto dessa forma, e também ela lá em Ithaca. Felizes mas tristes, ou talvez tristes mas felizes.
Vivemos a paixão reacesa poderosamente pelo reencontro. A sensação para mim foi a mesma de nosso começo anticonvencional há 26 meses. Como é possível saber lendo alguns posts neste blog, nós já éramos amigos, quase sem contato, durante dois anos antes da nossa mútua "descoberta" romântica. Quando chegou a hora, foi tudo à velocidade da luz. Retomamos contato por email numa terça-feira, nos apaixonamos durante um jantar na quarta, nos declaramos por telefone na quinta e ela completou a sedução levando-me para casa na sexta. Como se tudo que acontecera em nossas vidas até então fosse uma preparação para esse encontro total e definitivo. Não sentimos a necessidade de esperar por nada.
Pelo contrário, muitos casais se enamoram aos poucos, ou então se estudam com respeito e cautela ao longo de um bom tempo, evitando riscos. Adri, bem conforme a sua personalidade, não teve paciência nem medo. Eu também não teria tido. Não poderíamos ter sido mais felizes em nossa ousadia. Nós já sabíamos muito do que poderíamos esperar um do outro, em termos intelectuais, de princípios e gostos. Muitas pessoas supõem erradamente que isso basta para unir um casal. Mas o mais importante não é a similaridade, e sim a complementaridade. Que houvesse uma química perfeita, qualidades diferentes em harmonia e uma compatibilidade total dos sentidos foram as surpresas maravilhosas que descobrimos a seguir.
E, se desta vez não havia isso tudo por descobrir, havia por confirmar, sempre deliciosamente. Três dias e duas noites adorando um ao outro em cada mínimo detalhe e reafirmando um amor infinito. Adri mexe comigo numa intensidade e profundidade indizíveis, move o ponto mais remoto e sagrado do meu ser com um simples olhar. Sua voz me alegra. O toque de sua pele me delicia. Seu beijo me dissolve em carícias. Sua mente fantástica me transforma em algo melhor. Sua cumplicidade esperta me conforta. Sua musicalidade me inspira. Seu entusiasmo me revigora. Sua existência é minha felicidade. Sua lembrança me estremece e faz chorar de anseio pela sua volta todos os dias.
Toda a maravilha de amar voltei a experimentar nesse fim de semana... e não tenho um pingo de reserva quanto a confessá-lo publicamente. Tantas mensagens recebemos de gente que se disse inspirada por nós. Uma pessoa disse que acompanha o blog quase como uma novela sem fim... outra diz que recupera um pouco de sua fé nos sentimentos humanos depois de nos ler. Pois é verdade. Pode ter mais esperança, sim. É, talvez, difícil. Mas é possível.
Quando ela foi embora, mantive a dignidade e não derramei lágrimas na partida. Mas me senti como se me tivessem arrancado um braço e então me anestesiado. Passado um dia, ela já está de volta a Ithaca, estudando em Cornell como antes, correndo para resolver mil pendências e só com um breve chat noturno para nos confortarmos. Ela me disse que esses chats diários foram algo extremamente importante. Concordo... foram o elo que me permitiu manter a esperança firme de dias muito bons para todo o nosso futuro.
Mais uma vez, durante o casamento da Rê com o Gustavo, o Bruno fez lindos retratos nossos. Ele disse algo como que estávamos brilhantes de alegria. Eu acredito que na companhia dela estarei assim sempre. Feliz. Completo. Vivo.
Amo você, Mininamãiósa. Sou todo seu...
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