just like heaven

Tudo parece ousado àquele que a nada se atreve, por isso... atreva-se!

23 abril 2002

Uma cortina vermelha balança e dança ao vento frio da madrugada. Vejo muitos umbigos, e sinto o cheiro do mar. Sou transportada pro meio do mato repentinamente, em apenas um instante. O vento continua frio, mas as cores se transformam e rostos aparecem, murchos, cinzentos, inexpressivos, todos desconhecidos e estranhos. Chamo pessoas conhecidas pra perto. Ganho abraços quentes e olhares amorosos, daqueles que dizem tudo sem que seja preciso abrir a boca. Me descubro então numa construção antiga e bela, conversando com alguém amado, pra quem eu tinha levado meu livro favorito de presente. Revolvo todas as minhas coisas até encontrar o volume de capa azul quase preto, muito brilhante e com textura de concha. Ganho um sorriso fenomenal como retribuição, e nada mais existe, por um bom tempo, até que o vento gelado seja trocado pela baforada quente e úmida de uma cidade de que gosto. Pessoas de que não me lembro há tempos vão surgindo, e nos divertimos, todos juntos. Lembro dos nomes e das fisionomias, e é como se todos estivessem realmente ali. Conversamos, rimos, comemos, e seus olhos azuis surgem, naquele ambiente onde a única coisa que não se encaixa são eles. Pegunto como é ter oolhos tão transparentes. Onde ele se esconde, sendo tão límpida a abertura pra sua alma? O dono do azul tão belo responde com um sorriso, me abraçando em seguida, me tirando pra dançar. Como é gostoso aquilo tudo! Paro um pouco, me sento e observo. O frio voltou, e tudo ao redor é verde e marrom. Saias esvoaçantes rodam de um lado para outro, enquanto todos aqueles seres dançam. Todos com roupas idênticas, homens, crianças, cachorros. Gosto de olhar aquilo tudo, ouvindo o farfalhar das folhas e sentindo o cheiro de mato que eu mesma pareço produzir. Diversão, risada, movimento, beijos, mãos, conversas, vidas que se passam ali. Acordo com o despertador gritando seu tititi que só pára depois de apertar o botão de desliga. A vontade de fazer um ronso é enorme, mas hoje é rodízio, e, do sonho, fico só com a sensação maravilhosa dos sorrisos, dos carinhos, e dos olhos azuis. I feel fine.