Falta tempo pra tudo, até pra escrever neste meu espacinho. Corro demais aqui no escritório, e depois corro até o yoga. Lá, apesar de não correr, suo sem sair do lugar, fazendo força pra ficar nas posições indicadas. Chego em casa morta de cansaço, e demaio na cama. E assim os dias e as semanas passam, sem que eu nem mesma chegue a perceber.
Falta assunto, também, pra escrever aqui, neste espacinho meu. Segundo os publicitários da antiga, eu estaria precisando ler o Estadão, mas não acredito muito que ler o jornal vá me ajudar em algo. Eu nem mesmo curto ficar comentando nenhuma notícia que possa ser publicada em qualquer veículo de comunicação por aqui. E assim os dias e as semanas passam, sem que eu me dê conta.
Pensado, tenho muito, e sonhado também. Mas falta tempo pra escrever textos como os que eu gostaria. Sobre como o amor é muito mais que tudo. Sobre o relacionamento perfeito como sendo aquele em que há cumplicidade, ternura e comprometimento, na medida certa, que talvez nem seja em partes iguais, já que o resto de mais importante acabam por aparecer invariavelmente quando se consegue estes três 'pilares'. Sobre o sonho que tive com o Gu que me fez perceber uma série de coisas sobre os relacionamentos que já tive e que ainda terei. Sobre como um olhar, um abraço, um beijo ou um sorriso podem dizer tudo. Pra mim, os sorrisos são os olhos da alma, do espírito, de quem somos e de como estamos. E eu gosto das pessoas a partir de seus cheiros e seus sorrisos. Coleciono fotos de amigos sorrindo de modos diferentes, aquele sorriso secreto que eles usam só de vez em quando, e que todo mundo deve ter. Aquele sorriso de criança, de felicidade, de gosto tanto de você e de estar aqui e de viver e de respirar. Parei pra pensar nas pessoas que realmente me são muito queridas. E em como há pouca gente que represente o que há de mais sagrado pra mim: casa. Estranho isso de o alicerce me ser tão importante. A tia Cleide me dizia que me faltava base, ainda, porque eu não me permitia me fincar. Certamente por ter me mudado tanto na infância, e por não ter tido nunca algo que representasse o meu lugar, acabo sentindo falta disso até hoje. Estranho que, mesmo sem estar em casa, é possível me sentir em casa. Sempre que estou de frente pro mar, estou em casa. E quando abraço o Gu, estou em casa. Quando minha mãe e eu estamos em harmonia, me sinto em casa. E quando não há nada, somente eu e a música, isso é casa. Sorrir daquela forma especial, eu acho que só acontece quando temos a sensação de estarmos em casa. E casa, pra mim, é isso. É me sentir bem. Livre. Sendo como sei que sou, sem ter certeza de mais nada, apenas de estar bem. Isso é o alicerce. E o resto, bom... o resto agora não importa tanto. O que impressiona, sempre e talvez cada vez mais, é somente o quanto nos afastamos, no cotidiano, daquilo que realmente é o mais importante. Como deixamos isso de lado pra comer, dormir, trabalhar, tudo meio mecanizado, tudo meio sem sal, tudo sem perceber o resto, o redor, as pessoas. As pessoas. Elas são o mais importante. Elas e o mar, que as pessoas não sabem fazer o mar. O resto do que realmente importa, são as pessoas que sabem fazer, que sabem produzir, que sabem sonhar e acontecer. E eu vou trabalhar, porque tenho medo de ter que ficar aqui até muito tarde se não acabar logo tudo o que tenho por fazer. Volto ao meu cotidiano, sonhando com o amanhã, em que estarei em casa.
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