just like heaven

Tudo parece ousado àquele que a nada se atreve, por isso... atreva-se!

21 fevereiro 2002

Ready for crazyness? I just want to warn you: what follows IS a crazy text!

Sou muito, muito, muito apaixonada por duas coisas: o mar e cheiros. Então decidi falar todas as besteiras que penso sobre este último, ou, se não todas, certamente muitas. Em primeiro lugar, me ressinto de não haver uma máquina ‘cheirográfrica’, pela qual eu pudesse guardar todas as minhas memórias olfativas. Sinto falta disso, e muito. Conseguimos gravar sons e imagens, mas não cheiros. Um dia chegamos lá, eu acho (e torço). Minha sorte é que, apesar de péssima memória visual, tenho uma ótima memória olfativa. Quando sinto cheiros conhecidos, mesmo que eu não os sinta há muito tempo, eu os reconheço, e acabo lembrando da situação vivida quando entrei em contato com esse odor. Ao mesmo tempo, quando quero me lembrar de algo, é só lembrar do aroma que tudo me vêm mais claramente à cabeça, inclusive as sensações, emoções e afins. Quero relaxar? Penso em como era o cheiro de onde passei minhas últimas férias e pronto! Lá estou eu, de novo, com o cheiro me transportando ao passado e às alegrias das férias passadas. TUDO, pra mim, tem cheiro. Sei que vai chover daqui a pouco por causa do cheiro diferente que paira no ar, e ontem acordei com um estranho cheiro de inverno. Refrescou. Fico triste, aliás, quando sinto esse cheiro de inverno no ar. Geralmente, é apenas o outono começando, mas dá uma certa tristeza pensar que o calor está indo embora. Adoro o cheiro do mar, de chuva, de mel e de canela, de lavanda e de baunilha. E quando preciso me livrar um pouco da ansiedade que tanto gosta de mim, levo as mãos até o rosto e esfrego, porque sentir meu cheiro me traz um pouco de paz. Mas nem tudo é um mar de rosas, quando se trata de aromas... posso ficar doente por causa de alguns cheiros. Odores que fazem mal à minha saúde, causam enxaqueca, náuseas, e outros males. Há cheiros que me deixam cansada, outros, preguiçosa. E há aqueles que me deixam esperta, e há ainda os que me deixam contentes. Há aqueles associados a memórias de bons momentos da minha vida, e há outros ligados a coisas banais do meu passado. Não consigo comer nada antes de cheirar, e se alguém tem um cheiro ruim, passo a não gostar da pessoa. E isso vale tanto para perfumes quanto para o cheiro das pessoas em si, porque cada um de nós tem um odor bem peculiar, exalado constantemente pelo nosso corpo, junto com o calor que emitimos, também o tempo todo. Julgo tudo pelos cheiros: plantas, comidas, pessoas, animais, casas, aparelhos, férias, ambientes, clima, papéis, borrachas, perfumes, pedras, cidades, situações, terra, praias, tudo. Tudo. E acho uma pena coisas que não mudam seu cheiro nunca, como por exemplo os programas de TV, que vêm acompanhados apenas com o cheiro emitido pelo aparelho de televisão em si, assim como os blogs, as conversas telefônicas, o que lemos nos jornais, e outras informações acompanhadas sempre de um cheiro que não pertence a elas, mas sim ao meio em que elas se apresentam. Aromas têm uma importância super especial em minha vida. Pessoas e lugares simpáticos têm sempre um cheiro bom. E acho terrível não saber definir o que é o cheiro, e onde ele está, e como ele se dá. Sei que qualquer cheiro é mais perceptível ao esquentarmos substâncias, como se eles fossem mais exalados com o calor. O verão traz muito mais cheiros e cores à minha vida que o inverno. Mas, também sei que depois de certa temperatura, tudo cheira apenas a queimado, e que com grandes variações térmicas os cheiros emitidos variam consideravelmente. O que não sei é se o cheiro está dentro do átomo ou é o átomo. O que é isso que chamamos de cheiro? Como nosso corpo o percebe? Há moléculas só de cheiro, ou cada molécula tem o ‘elemento’ cheiro dentro de sua composição? Como é possível que cada pessoa tenha seu próprio cheiro, enquanto todas as folhas de uma mesma espécie de plantas parece ter exatamente o mesmo odor? Quando será que nós, humanos, vamos descobrir mais sobre isso que tanto me fascina? Quando seremos capazes de reproduzir cheiros fielmente? E quando seremos capazes de ‘fotografar’ aromas diversos, para depois sentirmos o cheirinho dos momentos especiais da vida? Como é possível que cheiros sejam capazes de transmitir tanta carga emocional? Como funciona nossa memória olfativa? No que ela difere de nossas memórias cognitiva, fotográfica e sentimental? Como tantas transformações acontecem em nossos corpos apenas ao sentirmos um cheiro diferente? Há cheiros que fazem com que eu me arrepie, ou com que eu queira fugir. E como explicar as emoções que têm cheiro? Felicidade tem um aroma diferente do medo. E sei que estou feliz quando sinto o cheirinho gostoso da felicidade, que ‘aparece’ quando estou contente. Estranho? Talvez eu não seja mesmo tão normal quanto aparento. Ou talvez eu seja apenas mais sensível quanto a este sentido, entre os cinco que achamos que possuímos. Há quem se deixe levar mais pelas imagens, enquanto eu me levo pelos cheiros. Por isso gosto tanto e comer. Ao colocar um alimento na boca, percebemos a gama infinita de cheiros que pode existir em uma simples maçã. Se nosso paladar difere apenas quatro sabores, nossas vias respiratórias permitem que sintamos prazer imenso ao comer, por nos proporcionar o contato com os aromas de cada alimento. Delicioso. Sempre me perguntei se haveriam pessoas deficientes nesse sentido, assim como existem cegos e surdos e mudos. O que me leva a pensar se existem pessoas sem tato. Devem ser consideradas deficiências menores, pois nunca ouvi falar de gente incapaz de sentir cheiros ou texturas. Mas fico imaginando qual seria a graça da vida se eu não pudesse me deleitar com os aromas deliciosos que existem. Costumo, inclusive, dividir os cheiros em categorias. Há os cheiros molhados, os cheiros doces, os cheiros sujos e os cheiros oleosos. Há os cheiros com textura muito forte (muito secos ou muito oleosos ou muito molhados), e há os cheiros quentes ou frios. Há cheiros compostos (como o cheiro de arroz cozido, que na verdade pode ser uma mistura do cheiro do próprio arroz em si com o alho e a cebola e o óleo) e os cheiros simples. Há cheiros complicados e cheiros que se destacam. Cheiros fortes ou suaves. Cheiros meigos e cheiros amargos. Cheiros grandes e cheiros quadrados. Cheiros fáceis e cheiros queridos. E tem os cheiros imperceptíveis, mas que estão lá. Qual será o mecanismo que faz com que não sintamos mais um cheiro quando estamos imersos nele? Se há azul à nossa frente, vemos azul sempre. Mas se entramos num ambiente com cheiro de rosas, após dois minutos não mais sentimos o aroma; i wonder why. É claro que o mesmo não vale para aqueles cheiros que me fazem mal, pois eu os sinto constantemente, mesmo estando imersa neles. Por que? Sei lá... Algum dia vou delirar, lendo as explicações sobre o olfato e os cheiros, e enquanto isso apenas imagino, pergunto, e cheiro muito. Amo cheirar.