Qual o máximo de dor que uma pessoa suportar? E o máximo de saudade? De medo? De ansiedade? De barulho, estresse, coca-cola, felicidade, amor, sofrimento, angústia, solidão? Bacana descobrir que não é só muita dor que parece insuportável, mas também muito amor. Que rima com dor, mas é muito diferente, embora possam ambas as coisas estar extremamente interligadas. Qualquer coisa em excesso faz mal, diz minha mãe desde que sou pequenininha como uma ervilha. Desde antes, até, segundo conta meu pai. Isso inclui coisas boas tb, e sempre paro nessa parte, pra pensar naquilo que parece ser tão irreal, isso de coisa boa demais virar ruim... como pode algo bom virar ruim, se é bom? Mas é verdade. Coisas que a gente aprecia, quando em excesso, podem ser maléficas, acredito. Mas são coisas más em excesso que temo mais. Medo de me sentir tão trapo e tão lixo de novo. Medo de voltar àquela solidão insana que já vivi. Medo de ser revisitada por aquela saudade que causa mal-estar físico. Os ciclos da vida, é deles que tenho medo, se eu pensar bem. Das coisas ruins que se repetem, até que a gente, finalmente e sem saber como, consegue se libertar. E essas coisas me dão muito medo porque parecem realmente capazes de me fazerem mudar pra muito pior. Nossas defesas vão sendo contruídas ao redor delas, nossos exércitos vão sendo preparados. Pra depois guerrearem contra pessoas que sequer conhecemos. Barreiras que permitem que nos escondamos completamente. Nos tornamos ariscos, esquivos, medrosos. Mais poder de fogo = mais medo = mais sofrimento, vicioso esse caminho, mas não conheço muita gente que soube dele escapar. Parece que agimos assim sempre, nós, os seres humanos, única espécie que tem humor, o qual vem da inteligência, segundo explicou o WS naquele outro dia. Vamos nos moldando ao mundo a partir de nossas experiências. E isso implica na construção de armaduras que permitem uma ilusão de defesa contra outras experiências. Sem saber, ou às vezes até sabendo, que essas mesmas armaduras não nos permitem aproveitar tudo aquilo de bom que deveríamos viver. Tô usando um perfume muito cheiroso hoje, e ele me traz conforto. Mas faz parte de uma das minhas defesas, e por mais que tente não pareço achar uma forma de viver sem elas. Posso abrandá-las, é verdade, mas são tão eficientes, essas coisinhas dentro de mim, que não permitem sequer minha fuga – como se elas me protegessem do mundo lá fora e tb de mim mesma, danada! Converso com a tia Cleide. Mas parece que, sobre isso, ainda não chegamos a lugar nenhum. Saber não se machucar é necessário, ela diz. E eu sei. Mas não tanto, não tanto, e voltamos à mesma questão presente em toda a minha vida e em todos os meus pensamentos e atos: como chegar ao equilíbrio? Onde está ele, esse tal de meio termo, que parece ser saudável e bom? Como chego lá, se sequer possuo bóias, kit de primeiros socorros, capacete, cantil com água potável, instrumentos pra rappel, máscara, cilindros de oxigênio? Não tenho bússola, altímetro, conhecimentos de sobrevivência em terrenos hostis, nada. E ainda me dizem que o que procuro, minhas respostas às perguntas mais pertinentes e tb às mais absurdas, estão dentro de mim. Como pode caber tanta coisa numa menina de um metro e meio de altura? Quem diz isso já encontrou alguma vez todas as respostas dentro de si? Então por que continuam insistindo nesse absurdo de idéia? E por que continuo acreditando e fugindo da minha própria crença? Sei lá! Mas sei que detesto cigarro, que ainda vou me embebedar, que amo música, mar, e pessoas queridas. É um começo, já é um começo. Um ponto do caminho de onde posso escolher trinta e cinco milhões de pequenas estradas. Perdida, estou. Como se escolhe entre tantas opções disponíveis? Vi um filme ontem que dizia que a gente chora quando se sente assim, perdida entre emoções, sem saber o que sentir. Não choro, não agora. Mas acho que a moça quis dizer que a gente chora por não entender nem concordar com o que sente, porque a gente não precisa saber o que sentir, a gente sente e é só, sem controle. Pode até esconder, mas essas coisinhas, os sentimentos, elas parecer brotar, simplesmente. Sem motivo aparente, surgem, assim, às vezes quando a gente menos espera, da forma mais esquisita possível. Queria chegar neste ponto do texto e colocar alguma coisa aqui que desse a impressão de que tudo isso é, na verdade, uma historinha da Dalia, que é uma parte da menina que todos fomos um dia. Mas isto aqui é meu mesmo, no fiction, just me and some stupid thoughts, all messed up. E depois, quanto ao meu hermetismo, tá tudo aqui, pô! Mas pelo menos eu dou pistas, isso não conta? Parece bem explícito pra mim, tudo que escrevi, embora eu saiba muito bem que não tá explícito porcaria nenhuma. Estranho me vir à cabeça agora que muita gente vai ler isso aqui, gente que nunca me viu escrever coisas assim e que vai achar que tô enlouquecendo, gente que vai parar no meio porque este texto tá um saco, gente que nunca me viu nem falou comigo nem sabe quem sou e vai achar que sou só isto. Pessoas iguais a mim e a você, sempre iguais, todas iguaizinhas. Mas que não conseguem ver o que há por trás de tudo, por causa do hermetismo. Mas pelo menos deixo que imaginem... e isso é bom, porque parece que posso até me enganar assim. E tenho vivido com isso, há tempos. Não queria mais me enganar. Será que dou conta? É fogo sair do marasmo, da acomodação, do conforto, pra ir pra algo novo e diferente. Tenho medo, muito medo do diferente. Dois minutos depois morro de curiosidade, ainda bem que ela existe, e ataco o diferente com gana, fascinada. Ou deixo de lado, achando que aquele diferente não vale a pena, com preguiça, ou vencida pelo medo. E esse texto tá mesmo ficando como aquele da sopa de espinafre, que não diz nada e não leva a lugar nenhum, mas e daí? Fiquei pensando já muitas vezes por que é que as coisas que dizemos/fazemos/escrevemos/pensamos precisam fazer tanto sentido. Diz minha mãe que é porque a linguagem existe pra gente poder se comunicar, e que comunicação engloba fazer sentido, pior: fazer sentido não só pra vc, mas tb pro outro, aquele que está recebendo a mensagem comunicada. E quando gente fala/pensa conosco mesmos? Com os nossos botões, é tb preciso fazer sentido? Tantas vezes não faz... o pensamento adora correr, passear, explodir, voltar, escolher, vagar, e a gente se perde no meio dele, tentando segui-lo, ou deixando-o livre, a gente sempre se perde...
just like heaven
Tudo parece ousado àquele que a nada se atreve, por isso... atreva-se!
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