verborragia
tenho estado introspectiva nestes dias. pensante. pessoas, coisas, e situações -- tudo me faz refletir. tenho dormido mal, por não conseguir parar de pensar. lembro de angola e da minha adolescência, quando eu questionava todas as coisas muito mais intensamente. foi nessa época que eu virei pollyanna. e também guerreira. minhas descobertas, meus valores, minhas crenças vêm quase todos da época em que eu tinha 14 anos. outras descobertas assim, só aos 21, e depois quase que não mais. corri atrás de tanta coisa, nestes anos todos, que acabei deixando os questionamentos de lado. eles estão voltando com força total e eu tou quase pedindo socorro. afinal de contas, o bom é ter alguém com quem conversar sobre as nossas perguntas todas, e aqui... aqui eu converso com a alice, que de tanto me ouvir tá quase começando a falar. fico pensando em como sou medrosa. morro de medo de tudo. da barata que ontem passou pelo meu pé. de faltar água. dos questionamentos todos. como acredito que enfrentar os medos é importante, reajo à barata como se ela fosse uma borboleta colorida (ou iés, é sério mesmo, pode acreditar!), faço planos concretos para lidar com a possível falta de água, e encaro as minhas próprias perguntas de frente, tentando ver o que há no fundo do meu baú e por trás do meu espelho. tenho medo das reações do meu corpo, que semana passada me pregaram peças. medo das minhas vontades loucas. quero entender por que fantasio coisas que sei que não darão certo, que sei que não me levarão a lugar algum. não posso ouvir o som de um motor de fusca sem o coração disparar, e tenho medo de lidar com isso. tenho medo de não conseguir guiar todos os meus quarenta e cinco funcionários pelo melhor caminho pra cada um. tenho medo de querer aquilo que as pessoas não podem ou não querem me dar, e tenho medo de não poder ou querer dar aquilo que as pessoas esperam de mim. é bom saber que posso e vou enfrentar todos os medos. adoro desafios, e os medos todos me desafiam, as pessoas todas me desafiam, e é por isso que eu tou aqui, é por isso que sou quem sou, é por isso que vejo felicidade onde muitos enxergam somente problemas. acho que encontrei alguém mais persistente que eu, e isso também desafia, pro bem e pro mal. tenho saudades que machucam, de épocas distintas. tenho medo de não conseguir mais alcançar a plenitude com que sempre sonho, e a qual já vivi, mesmo que por breves momentos. vejo fotos e lembro de estados de espírito que quero repetir. penso em começar aulas de vela na semana que vem, e meu coração se enche de vontades. queria mesmo era poder estar no mar todos os dias. vejo meu cabelo virar bombril e penso em como pode uma coisa tão absolutamente incrível como o mar fazer mal pruma parte do meu corpo desse jeito. as pessoas são assim também, eu acho: acabamos não conseguindo ser 100% como poderíamos; machucamos pessoas queridas como o mar machuca os meus cabelos, por melhores que sejamos ou queiramos ser. tenho vontades de viver algo grande em sentimento, e me sinto às vezes aprisionada, por mim mesma. sinto falta, em dias tensos como estes últimos, de ter alguém me esperando em casa. depois de me doar por completo aos outros, sinto falta de ter alguém que me dê um abraço. nem que fossem as mimicas. aqui a casa é sempre vazia, a não ser que eu abrace a alice, que sempre me brinda o seu melhor sorriso, me dizendo que vai ficar, sim, tudo muito bem. o moço, que quase adivinha situações e pensamentos, me escreve que tudo vai ficar bem, também. mas sinto falta de contato físico, de cheiro, de pele, de um ombro amigo. sinto falta das mientas me esperando em casa, com carinhos e miaus, porque cheirinho de barriga de gato é a melhor coisa depois de um dia estressante. o mar, sempre ele, me ajuda também. me abraça, me beija, recebe minhas lágrimas quase tão salgadas quanto as suas águas. mas o mar aqui não funciona à noite, pelo menos não assim... o mar aqui é como o sol, aparecendo só de dia. a mesma pergunta de infância me atormenta: como é possível se sentir só em meio a tantas pessoas? a tocha do pan passou por noronha hoje, acompanhada de gentes várias. ela foi recebida por mim com a minha roupa mais feliz; o moço me ligou hoje logo depois do despertador tocar, e me deixou de coração todo quentinho. a voz do moço é muito, muito melhor que música! no dia em que a estação de energia daqui pegou fogo, eu tive tempo pra apreciar o crepúsculo, inspirador. depois, vi um céu tão lindo a ponto de ficar extremamente emocionada. quase como o céu mais divino que já presenciei, em janeiro de 89 no chile. nessas horas eu penso e penso e penso no moço. e em todas as outras horas também. por aqui, vejo as pessoas mudando, se adaptando, sorrindo mais e fazendo com os colegas como eu faço: injetando ânimo, elogiando -- que liiiiindddddddddooooooooooooooooo! não tem como desanimar, assim. mesmo com as dúvidas e as perguntas e os medos. sabendo que as pessoas todas te vêem lutar e se juntam à luta, a gente redobra as forças e é feliz. porque, como canta o oswaldo, metade de mim é amor. e a outra metade também.
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