ontem e hoje, de novo
porque na quarta à noite um dos nossos guias me ofereceu um passeio na quinta. eu, sem folga há mais de vinte dias (porque mesmo de folga, eu estava trabalhando), e já tendo avisado o pessoal daqui que eu iria ter que descansar de verdade alguma hora, aceitei o convite! acordei cedo (6 da matina), e simbora preparar a bolsa com água, sanduíche, protetor, agasalhinho (pro caso de estar sol demais), e... trilha! esqueci a máquina (pra variar!), mas o guia levou a dele e tirou váááárias fotos que depois vou postar aqui. saímos rumo ao sancho, onde deixamos o buggy pra começar a trilha do capim-açu. essa trilha normalmente leva de seis a sete horas pra ser percorrida, e não é recomendada nesta época do ano em que as chuvas fazem MUITO mato crescer na região. que coragem andar por seis horas, já pensou? eu nem pensei; estava precisando descansar e concordei com o passeio num piscar de olhos!
começamos a trilha às 7:15 da manhã, num caminho gostoso que logo se transformou numa trilha com muito mato por todos os lados. subiiiiiida, e de repente a trilha some, pelo menos aos meus olhos. o mato engoliu o caminho! em noronha não tem muito bicho, então eu nem me importei com o mato. grudei no guia à minha frente, e andei, andei, andei. teve barro, teve pedras, teve mato com espinhos, teve mato muito mais alto que eu. olahndo pra frente, pra trás, pros lados, e pra cima, só se via mato! o capim-açu é um capim baixinho e fofo, sendo um mato no qual é gostoso de cair, porque ele amortece a queda como se fosse uma almofada. caí algumas vezes, tropeçando em pedras ou caindo em 'buracos' no meio do caminho tampado por mato. escorreguei no barro uma vez só, pelo menos. e dá-lhe andar. e andar. e andar. ainda bem que o guia era bom de papo! tivemos mais subidas, mais descidas, mais barro, mais pedras. e finalmente chegamos no primeiro mirante. liiiiiiiiiiiiiiiiinda, a vista. de subir no banquinho, abrir os braços, e sentir o vento junto com o barulho do mar, tudo entrando pelo nariz, pelo cabelo, pela boca, pela roupa, pelos poros. delícia, isso! comunhão, isso. sentamos, descansamos um pouco, conversamos, apreciamos mais a vista, e veio chuva! bora se abrigar da chuva debaixo de uma árvore (aqui, não sei por que, não tem relâmpagos, então tudo bem ficar embaixo da árvore na chuva, sem medo de ser feliz!).
a chuva passou. o tempo passou. seguimos nossa trilha, no meio do mato e da lama e das subidas e descidas e do silêncio e das palavras. chegamos no segundo mirante. eu, encima das pedras, olhando pro mar lindo lá embaixo, que medo de altura! é só sentar que o medo passa.
a gente senta e interage e conversa e levanta e caminha, até chegar no outro mirante. e depois mais mato e barro e trilha e até foto pra chegarmos no mirante das pedras, na pontinha da ilha, onde dá pra ver mar rodeando a gente em quase duzentos e setenta graus. o horizonte redondo, como o guia disse. onde não consegui descer até onde era pra ir, por causa do meu medo terrível de altura. imagine-se no meio das pedras, sem proteção nenhuma, descendo e subindo encostas desprotegidas, com o mar bravo logo ali embaixo. estremeço só de pensar! assim que descemos um pouco, mas não tudo, e sentamos pra ver a paisagem.
almoçamos os sanduíches que levei. bebemos água. tiramos fotos. conversamos. muitas perguntas, algumas respostas, uma troca bem pensada e negociada. meio-dia e nem metade da trilha por completo! comecei a perceber que a trilha não ia demorar só seis ou sete horas, sem me importar com isso. afinal de contas, o dia de folga não serve pra passear? quanto mais tempo longe de casa, mais tempo longe do escritório, e mais descanso pra minha mente que tanto trabalha.
voltamos das pedras pra trilha, e aí sim teve muito capim-açu, por todos os lados. segura no guia pra não cair! ele na frente, eu atrás, numa descida que leva até a caverna do capim-açu. caverna esta que, à primeira vista, não impressiona. como assim são duas da tarde e eu me matei de andar no meio do mato, estando toda suja de barro e toda suada, só pra chegar aqui? daí a gente senta nas pedras e olha a água do mar entrando na caverna, num azul claro que faz a água parecer gelo. e a gente repara que as pedras no chão da caverna são vermelhas, contrastando com o azul do mar. e a gente sente o barulho e a força das águas, e vê a beleza daquilo tudo, e sabe, finalmente, que valeu a pena, sim, a caminhada e o barro e o mato. porque o mar é a coisa mais linda que tem. o som do mar. o cheiro do mar. a cor do mar. eu quero ser o mar. amo o mar.
três da tarde, fotos na caverna tiradas, água tomada, caverna olhada e (re)conhecida, começamos a nossa volta. ao invés de repetir o caminho da vinda, escolhemos as pedras. as pedras que escorregam e que dão medo de altura, às vezes. dá-lhe segurar a mão do guia, conversar amenidades pro medo passar, e andar. e andar e andar e andar. engraçado: o mar estava ali do lado o tempo todo (as pedras ficam todas na beirinha do mar), mas eu só via as pedras e o guia, que de vez em quando me acudia nos escorregões. paramos algumas vezes no caminho. pra descansar. pra beber água (que o mar (ou será a maresia? ou serão as pedras?) dá sede). pra conversar. pra olhar o mar.
andamos e andamos e andamos. o sapato do guia abriu. trocamos pedrinhas de trilha. tomamos quase toda a água. andamos mais e mais, num mar de pedras. e finalmente chegamos na areia da praia do leão, que é perto de onde moro. isso às seis da tarde. cheguei em casa quase doze horas depois de ter saído! peguei a chave de casa, e não parei no escritório sequer pra dar um 'oi' pro pessoal, que eu não queria trabalhar no meu dia de folga. pela primeira vez, consegui pegar o dia inteirinho só pra mim, sem perguntar como estavam as coisas, sem dar uma espiada na cozinha, sem oferecer ajuda. nada. peguei a chave, fui pra casa, tomei um mega banho, e deitei na cama, cansada porém contente. que dia lindo que eu tive! apaguei as luzes e fiquei rememorando o dia, as paisagens, a caminhada, as coisas todas. adormeci antes das nove da noite. e só acordei hoje, com o despertador!
hoje o dia foi iluminado, em muitos sentidos. o trabalho rendeu, eu me senti descansada e contente (pique total!), resolvi zilhões de coisas, contei pra todo mundo das partes boas e ruins da trilha, consegui coisas bárbaras com o banco, recebi visitas divertidas no escritório, conversei com as pessoas queridas daqui e de sampa. tão gostoso, trabalhar assim!
e que venha o próximo passeio, domingo! desta vez, uma trilha com um guia que ainda não conheço e com duas ou três meninas de companhia! caieiras-atalaia, me aguarde! :-D numa trilha mais curta e com águas pra mergulhar no meio, espero que as pernas pelo menos não fiquem tão doloridas :-P
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