just like heaven

Tudo parece ousado àquele que a nada se atreve, por isso... atreva-se!

01 novembro 2005

da chuva incessante e da saudade

Poisentão. Tenho preferido desenhar para cá em vez de escrever, e são sempre esses desenhos dedicados à pequenina, no estilo que eu sei que ela gosta mais dentre todos. Cansa escrever inconclusamente sobre saudade e tédio ao fio de meses, mas é impossível não remeter tudo a ela, que sempre habita meus pensamentos, sonhos, idéias, sentimentos. E peço paciência aos colegas e amigos, porque imagino que não tenha sido exatamente uma companhia ideal. Deparo irritado, impaciente, vontade de pegar alguém pelo pescoço amassar uma bola de papel bem apertada até passar a raiva, mas antes de estressar com alguém me contenho e me limito a calar. Não é aquela coisa clássica de filme, que isso até existe também, mas o principal sintoma é pouca energia e a sensação incômoda de que dia após dia ficou muita coisa por fazer, que está tudo fora do ritmo, que não estou rendendo nada e gostaria de me recompor dormindo as horas de sono que ela lá longe, tadinha, não pode. A isso se soma o clima terrível da cidade de São Paulo, que quando faz sol bom durante alguns dias e boto a quilometragem das bikes em dia e volto a perder peso, retorna a chuva durante no mínimo duas semanas e quebra todo o meu treino; cheguei porém à teimosa conclusão de que não troco as bikes por spinning nos dias ruins nem que me paguem, sem chance. Prefiro um bom livro e paciência com a balança. O tempo passa e procuro músicas que espero que ela goste quando eu enviar pelo mail. Quase tudo na nossa coleção de CDs remete a ela, até os CDs que eu adicionei à coleção. Muitos deles não tenho mais certeza de quem eram. Assim também com os livros. Lembro a primeira vez que ela me tocou determinadas músicas. Lembro de uma viagem nossa de carro e ela com "Black Celebration", um momento de emoção vibrante na sala de estar com "Doing the Unstuck" do Cure, múltiplas caronas para o trabalho com Rush (ela cantando junto verso por verso), o nosso primeiro fim de semana em que ela apresentou "Clocks" a mim ainda e destarte em outro mundo pela overdose sensorial e emocional dela. Todo dia me entretenho a imaginar o que ela pensaria daquela notícia ou qual comentário faria sobre tal novidade ou que diria de um novo filme - "legalzinho", "médio", "você precisa assistir qualquer dia desse alugamos", "marromeno". Ou de restaurantes, parques. Não modifiquei nossa casa em praticamente nada, e as gatinhas me parecem iguais ao que estavam em 23 de maio. Amanhã fazemos vinte e nove meses. Farei uma festinha especial durante o nosso trigésimo quinto.