just like heaven

Tudo parece ousado àquele que a nada se atreve, por isso... atreva-se!

02 setembro 2003


Como atua a magia que reside em um retrato?
Além do valor documental, da sua capacidade de preservar vislumbres de emoções e momentos, de comunicar, perpetuar e enfatizar?
Um retrato pode ser um elogio.
Um retrato pode ser uma carícia.
Um retrato pode ser um presente.
Por esses motivos e muitos outros é que, nos dois meses em que eu e minha amada estamos perdidamente apaixonados e grudados, fizemos centenas de fotos um do outro e dos dois juntinhos também... Há muito mais fotos dela do que de mim, é verdade, mas paciência, ainda estou a um longo caminho de perder a timidez e melhorar a fotogeneidade ;-).
Nós gostamos de registrar tudo, e é frequente a gente se pegar comentando: "isso daria uma grande foto!" Não é uma obsessão; antes disso, um prazer adicional - uma realização do momento.
E mesmo com a melhor tecnologia ajudando, a máquina não vê o que o olho sente; é preciso fazer uma série de concessões e truques para preservar a alma do momento dentro da foto.
Mas não importa o que se faça com a câmera, com o desenho a relação é ainda mais íntima e carregada de significação.
O desenho não é instantâneo e exige muito esforço. Há a chance enorme de ele sair errado e precisar ser refeito, perdendo a espontaneidade. Todavia, mesmo o mais deformado e tosco deles sempre traz uma mensagem relevante sobre o retratado e outra sobre quem retratou.
O retrato desenhado, como a fotografia, pode ser um elogio, uma carícia e um presente. Mas o é mais intensamente. Cada detalhe foi efetivamente percorrido pelo olhar e também pelo lápis. Somente o que é considerado mais significativo permanece fixado no papel.
A foto acima foi feita instantes antes do desenho. É apenas um estudo, está meio tremida e desfocada... O desenho foi feito em cerca de seis minutos e é bem difuso, indeciso na parte de baixo. Mas há uma coisa muito precisa nele e - não por acaso - é o olhar da minha querida observando os traços sendo fixados pela lapiseira no papel.
Nós tínhamos combinado com antecedência que faríamos esse retrato, porque ela queria testemunhar o desenho nascendo.
Posso afirmar então que, mais ainda do que um retrato do casal sentado em frente ao espelho, ele é um retrato do olhar dela apreciando aquele instante. Para mim é ali que está a magia do momento, capturada em alguns pares de traços.