just like heaven

Tudo parece ousado àquele que a nada se atreve, por isso... atreva-se!

13 junho 2002

Às vezes gosto de coisas estranhas. Coisas que não fazem sentido para os olhos alheios. Coisas que me arrepiam sem que eu saiba direito o porquê. Quando criança, eu era muito diferente, e me sentia por demais diferente. Queria ser normal, mais como as outras crianças, e assim fui. A duras penas, me travesti de gente como os outros, me disfarçando toda pra ninguém perceber que, no fundo, aquilo não era eu. Funcionou bem. Eu costumo trabalhar com afinco e perseguir meus objetivos até o final, até conseguir achar que cheguei lá. Fui normal, fui aceita, fiz amigos. E percebi que aquilo tudo era medíocre demais, e minha ânsia por fugir daquele esconde-esconde só fez crescer mais e mais. Decidi, então, assumir que sou diferente e estranha. E me amparei em outras pessoas esquisitas. Esquisitas demais, diferente de mim, que já era um pouco mais normal. Mas assumi e estranhei muitas gentes por aí. Me fiz daquela forma, melhor que normal, mas que ainda não era minha totalidade. Só com meu lado diferente aparecendo, escondi minhas coisas iguais, e me isolei de todos aqueles que não gostam do diverso. Meus amigos eram todos não convencionais, e eram até legais, muito melhores que os normais, até que comecei a perceber que todos eles se escondiam por trás daquilo. Fugir do mundo através das estranhezas de cada um ainda é fugir, e eu comecei a ficar novamente inquieta, insatisfeita, infeliz. Foi só depois de ter morado em Angola e voltado, só depois de ter tentado ser quem não sou de mil formas, consegui descobrir quem sou, e ser assim. Consegui, finalmente, assumir as normalidades e as diferenças que existem na minha mente, em meu coração, e no meu espírito. Decidi assumir TUDO aquilo de que realmente gosto, e tudo o que me desgosta. Descobri que posso ser querida assim, com todas as minhas incongruências. Descobri que posso ser louca a hora em que quiser, e que quando der vontade de acalmar tudo e assumir toda a normalidade possível, também posso fazê-lo. Aprendi que ser feliz pra valer só acontece quando você é 100% aquilo que é, aquilo que acha, aquilo que opina, aquilo que sente, aquilo que vive. Não tenho mais vergonha. Nem quero mais ser aceita pelas pessoas convencionais demais ou de menos. Quero apenas ser quem sou. E sou. Com as dores e as delícias que fazem parte disso tudo. E com muito mais vontade. Quando a gente decide ser como é sem ligar pro resto das gentes ao redor, tudo fica mais leve, mais livre, mais azul. Não tenho mais medo de ser normal demais, ou diversa demais. Tenho medo, apenas, de não ser eu mesma. (Agradeço aos meus pais, sem os quais nada disso teria acontecido. Foram eles que me levaram a morar em tantos lugares diferentes, o que facilitou a busca pelo meu eu, e as experiências com as diversas facetas que resolvi mostrar ao longo dos anos, antes de concluir que o bom é mostrar tudo, sem pudores, sem medo, e sem receio.)