Greve. Tá tendo uma já faz alguns dias, acho que dos servidores públicos de alguns tribunais. Todo dia é a mesma coisa: música muito alta, e um povo que não pára de gritar seus discursos antiquados. Eu não sabia que ainda se usava falar 'companheiros e companheiras' em manifestações desse tipo. Muita gente no vão do Masp, a gente ouve tudo daqui. As buzinadas mil por causa do trânsito intenso causado pelos grevistas, a movimentação da polícia, e muita gente conversando, cantando, batendo palmas, e agitando bandeirinhas. É, de uma das janelas do escritório dá não só pra escutar, mas também pra ver o que acontece lá embaixo. É triste trabalhar assim, com tanto barulho e tanto movimento. Com um monte de gente se esgoelando ao microfone pedindo para que os funcionários continuem a greve. O pessoal expõe os motivos, diz que em todo o Brasil o movimento é forte, e saúda as gentes que acabaram de chegar de Araçatuba, de Catanduva, da Baixada Santista. Depois, tem Legião Urbana e Daniela Mercury, antes de mais falação e protestos. Eu, daqui de cima, ouço e tento me concentrar nas planilhas, nos telefonemas, nos pedidos do chefe e na sopa de cenoura. Lembro da Mafalda. E sonho com estar em casa, debaixo das cobertas, um livro e uma caneca de chocolate quente me fazendo comapnhia.