Ela chegou em casa depois de um convite-surpresa maravilhoso que havia terminado com pedaços de damasco num sorvete e beijos de uma boca carnuda e quente, maravilhosa. Maravilhada, ela chegou. Nas nuvens. As always. Ela não gostava de flores, todos o sabiam. 'Flores não duram, não se comem, não se sentem, não se ouvem, não se movem'. Mas lá estavam elas, as flores, perfumadas e com um cartão em seu nome, nas mãos do porteiro. Homem asqueroso, com um sorriso malicioso no rosto ao entregar-lhe o buquê. Ela subiu as escadas, apressada, curiosa, ofegante. Não tinha reconhecido a letra no cartão. Tinha medo de que fosse algo não identificado. Tinha medo de que fosse algo indevido. Tinha medo e frio na barriga. Coração acelerado, como das outras vezes em que tinha recebido flores tão belas e cheirosas, deliciou-se com a visão e o perfume das rosas. E se perguntou, como já acontecera outras vezes, como era possível uma mulher não gostar de receber tão imenso carinho através de pequenas coisas de um vermelho tão profundo e contrastante com o verde, de pétalas tão macias, de aroma tão profundo. Que vontade de abraçar as flores, ela sentiu naquele instante! Como se visse uma pessoa querida à sua frente, sorrindo ao olhar em seus olhos. Sem perceber, tinha aberto o envelope, enquanto se emocionava e pensava em tudo isso. E ali jazia o cartão, em suas mãos trêmulas. Pois só pessoas muito queridas e com muita coragem e força de vontade enviam rosas a uma dama que não as deseja. E nenhuma pessoa consegue fazer com que as mãos parem de tremer a uma visão como a que ela tinha diante de si. Surpresa e grata, ela cortou a fita que envolvia os botões, arrumando-os um a um em seu mais precioso vaso. E foi pro centro da sala, admirar a obra de arte que havia ganho. Bela e tranquila, com um enorme sorriso no rosto, sentou-se. E pensou em todas as coisas belas e inesperadas que um só dia podem trazer. Assim adormeceu. Sonhando com mundos onde pessoas se amam, se gostam, se querem bem. Ela era feliz. E estava, finalmente, em paz. Mesmo que por pouco tempo. Que poder um alguém querido pode ter, esse de apaziguar tudo, fazendo com que ela se sentisse segura, abraçada, amada. Sabendo que podia contar com pessoas verdadeiramente queridas. E que podia dormir em paz, sem medo. Pois não havia mais escuridão em seus sonhos. Só pontinhos vermelhos espalhados por um imenso e verde jardim.
just like heaven
Tudo parece ousado àquele que a nada se atreve, por isso... atreva-se!
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