just like heaven

Tudo parece ousado àquele que a nada se atreve, por isso... atreva-se!

05 março 2004

Diário de viagem
São Paulo-Amsterdam

Schiphol, HolandaEsteira rolante em Schiphol



Tudo pronto para a viagem com enorme antecedência, trabalho em dia, poderíamos sair para o aeroporto com algum sossego. No caminho de volta para casa, pedi a um taxista para fazer um preço para uma corrida até Cumbica. O orçamento foi aprovado pela Drídri e lá fomos, felizes como dois bobos apaixonados que somos.
No aeroporto, chegamos com enorme antecedência, mas de cara nos avisaram que poderíamos não conseguir pegar avião no mesmo dia, porque os assentos estavam lotados e ficaríamos numa lista de espera. Suspense até o último minuto. Uma fila completamente inesperada na hora de embarcar no 747: imagine uma multidão de 280 passageiros xingando em diversos idiomas, indignados com um circo armado pela Polícia Federal com cachorros farejadores e agentes fardados formando um corredor de revista dentro do túnel de embarque, à procura de algo que não encontraram. Atraso de quase uma hora.
Finalmente, um funcionário da companhia aérea nos ofereceu uma barganha: conseguiríamos viajar hoje mesmo se topássemos ir em assentos da tripulação – aqueles retos, duros, que ficam virados para trás, junto às portas da aeronave. Topamos e descobrimos mais tarde que essa opção improvisada resultou melhor que a da classe econômica, pois pudemos nos deitar de comprido no espaço dos assentos e dormir muito melhor que os passageiros normais! As nossas refeições chegavam depois de todos os outros comerem, mas quanto a isso, tudo bem. No final da viagem, ainda ganhamos garrafinhas de vinho e souvenirs como brinde de “consolação”... uma delícia!
Como eu e minha amada dormimos, digo, sentamos em lugares distantes um do outro, cada qual levantou-se para ir “tomar conta” do outro em momentos de insônia, e terminamos o vôo grudadinhos, envoltos naqueles cobertorzinhos azuis.
A blogtrotter Cora Rónai tem razão quando diz que comida de avião pode ser surpreendentemente boa... No jantar, o destaque foi o frango empanado com molho. No café da manhã, pãozinho integral, torta de legumes com queijo e um excelente suco de maçã adoçado com mel.

Amsterdam-Zürich, Zürich-Berna

Suíça vista de cimaTerminal de bagagem de Zürich
Trem em ZürichCarro típico suíço



A Europa toda coberta de branco, neblina pesada sobre a Holanda, molhada de sereno gelado. Estradas onde carros correm a velocidades enormes que não se poderiam confundir com estradas do Brasil. Imensos cataventos, campos arados com casinhas de bonecas. Canais, canais, canais, tantos deles que parece de fato que o lugar já esteve inteiro embaixo d'água. Pessoas extremamente altas, com cabelos loiros desgrenhados.
O aeroporto de Schiphol é tão imenso que longas esteiras rolantes ajudam a percorrer as alas espaçosas, com pouca gente. Havia - luxo dos luxos - uma exposição de Van Gogh dentro do aeroporto, mas passamos reto por falta de tempo. Não tivemos problema para pegar o avião de conexão, um perfunctório 737, mas o vôo novamente atrasou, agora por culpa de uma passageira que despachou a mala e não apareceu. A mala foi tirada do avião e revistada. Uma hora perdida em um vôo que dura uma hora...
Uma vez no ar, a Drídri aproveitou para continuar o cochilo que começara ao embarcar, e eu fiquei que nem bobo, olhando o mar de nuvens e visualizando na mente o fato de que eu estava no Hemisfério Norte pela primeira vez, e ainda sobrevoando a fronteira entre a Alemanha e a França.
A melhor coisa, novamente, foi a comida: um singelo mas saboroso pãozinho recheado de queijo e molho de páprica. Desculpe tanta ênfase no aspecto alimentar, mas compreenda que a diferença de fuso de 4 horas nos tiraria um almoço, horror dos horrores, não fosse pela nossa determinação!
Quando o avião fez o íngreme ziguezague de descida e furou a densa neblina que cobria a Suíça, encontramos uma paisagem umbrosa e um tanto desalentadora de neve parcialmente derretida entre árvores desfolhadas. O aeroporto de Zürich é novíssimo e chique, conectado a uma megaestação de trem com partes ainda em construção. A conexão era feita por uma linha de “metrô” exclusiva de 1 quilômetro. A plataforma era separada do leito por uma barreira de vidro com portas automáticas que se abriam em sincronia perfeita com as portas do trem quando estacionado. Como se pode imaginar a partir dessa descrição, tudo o mais é chique no último, das máquinas de venda de bilhetes às tabelas de horários em monitores de plasma widescreen na vertical, e a comunicação visual inteiramente na fonte Akzidenz Grotesk. Chique, porém com zero de ostentação ou ornamentação: é puro funcionalismo clean até o menor detalhe.
Os trens expressos - um dos quais pegamos para Berna - mais parecem aviões, com dois andares, velocidades superaltas, totalmente isentos de vibração e absolutamente silenciosos. Completamente sem comparação com qualquer outro tipo de transporte. O trem em movimento parece um cubo de gelo deslizando macio sobre uma mesa plana coberta de óleo. Ouvia-se todas as conversas dentro do vagão, em pelo menos quatro idiomas diferentes a qualquer momento. Muitos passageiros carregando esquis.
A paisagem estava triste, nem tentei fotografar. Tudo úmido e nevado, o céu escuro, poucos carros nas estradas. Muitas zonas industriais, vários prédios de empresas com nomes terminados em .com e .ch, e uma seqüência contínua de pequenos edifícios com telhados bem inclinados e bosques de pinheiros plantados. Nem sinal dos Alpes por trás de tanta neblina.
A Drídri aproveitou para cochilar e eu fiquei decifrando uma tira do Calvin em alemão de um jornal que alguém largou no trem – cada uma das mesinhas entre os assentos tinha um jornal diferente do dia, abandonado para quem mais quisesse ler.
Pouco mais de uma hora de trem, estamos na também novíssima estação central de Berna – ironia das ironias, na Velha Europa só vi coisa nova até agora.
O taxista que nos conduziu da estação ao hotel - fluente em inglês, assim como absolutamente qualquer outro suíço ou holandês com quem travamos contato até o momento – era uma figuraça e mais parecia um desses nossos taxistas tagarelas. A distância marcou um valor plausível em reais na cidade de São Paulo, só que em francos suíços. No caminho, só vitrines de lojas instigantes; temos que fazer um turismo-shopping assim que der tempo!
Mais um choque quando vimos que o hotel La Pergola é novíssimo, parecia que nunca alguém se hospedara ali antes de nós. A coisa de que mais gostamos, além do banheiro impecável, foram os edredons, levíssimos e quentes. Pena que não dava pra trazer um! O café da manhã era outra perfeição: um buffet com vários tipos de müsli, iogurtes, frutas à vontade, queijos, pães fresquinhos, chocolate quente, chás de vários tipos... Logo ficamos super mal acostumados, achando que na Suíça tudo é perfeito assim mesmo.
Nada de neve em Berna, pelo menos por enquanto. Temperatura em torno dos 6 graus na rua. Dá para andar a pé, desde que com gorro, luvas e aqueles abrigos que não têm muita chance de uso na terra natal.
Ah, sim, o primeiro banho depois de 24 horas de avião e trem só pode ser classificado com uma palavra: maravilhoso.

Festa do Tatá

TatáErich servindo cava
Drídri aprendendo alemãoMarinho com Hasler



Demoramos um pouco, mas conseguimos chegar na hora para fazer aquela visita surpresa para o Tatá, irmão postiço da Drídri, que comemora 30 anos hoje – a razão de tanta determinação nossa de chegar a Berna hoje! Parentes, amigos, montes de gente apareceram de surpresa também, graças à mobilização feita na surdina pelo Erich. Imagine você morando na Suíça há anos e de repente a sua mãe aparece batendo à porta, diretamente do Brasil! E, na sequência, três dos seus melhores amigos, vindos de outras partes do mundo! A Drídri e eu fomos os últimos convidados-surpresa a chegar.
A festa é multilíngue, porque cada um aqui sabe falar pelo menos três idiomas. Além do "alemão suíço" - que é bem diferente do alemão da Alemanha - castelhano, português, inglês, italiano... parece um congresso da ONU. A Drídri fala inglês como se soubesse do berço, eu entendo tudo mas fico inibido para falar. Dei uma escapadinha para escrever esta primeira parte do relato de viagem no computador do Tatá e do Erich, que tem uma tela excelente, um tema visual de pele de onça e um teclado suíço que é completamente nada a ver.
E para manter os Freixenets e Coca-Colas geladinhos, nada de geladeira: basta deixar as garrafas no jardim.

Comentário da Drídri: que GOSTOSO voltar a ver o povo daqui! O Tatá tá ótimo, o Erich também, e acho que o aniversariante adorou a surpresa coletiva (a mãe dele, que nunca tinha vindo pra Suíça, o Leo, amigo de adolescência, que também nunca tinha vindo pra cá, e nós, os que demoramos, mas chegamos!). Agora vamos mimir, porque depois de 24 horas de viagem, mais algumas de festa, dá pra ter uma noção de como estamos passados de cansaço! Nosso hotel é uma gracinha, e os cobertores são edredons grossos de plumas de ganso... mal vejo a hora de me esparramar na cama quentinha bem grudada no maridrinho!