just like heaven

Tudo parece ousado àquele que a nada se atreve, por isso... atreva-se!

22 janeiro 2002

Parte IV – Maravilhosa Guatemala
Meu pai foi muito rapidamente transferido para a Guatemala, em maio de 86 (mais um pouco e teríamos passado a copa de 86 na sede do campeonato!), onde reformulou e gerenciou o escritório daquela mesma firma estrangeira que o mandou para Rondônia inspecionar madeira... a Miriam, secretária equatoriana do meu pai, foi quem fez toda a nossa mudança, que ficou estocada em um contêiner na Guate até encontrarmos uma casa MARAVILHOSA (a mais bonita em que já morei) para ficarmos. Meu pai estava feliz! Tinha conseguido ascender profissionalmente, tinha uma Cherokee, dois guarda-costas, e motoristas. Minha irmã e eu fomos matriculada num colégio como ouvintes, pois continuávamos fazendo o curso por correspondência. Passamos quatro meses num hotel maravilhoso, mas que não era como aquele do Ecuador, e nos cansamos de morar no hotel (embora ele tivesse três coisas muito, muito boas: o ceviche de peixe, as panquecas com molho de morango, e uma boa área de jogos). Passeávamos muito pelas áreas de serviço, pegávamos sorvete diretamente do freezer, e todos os cozinheiros já sabiam como gostávamos da nossa comida, assim como as camareiras nos deixavam lavar as banheiras dos nossos quartos (elas tinham uma espuma especial pra lavar as banheiras que era DEMAIS! Era divertido, cheiroso, e deixava tudo branquinho e limpinho sem esfregar! Nunca mais vi esse produto em lugar nenhum, mas sei que compraria pra limpar os banheiros de casa, não só pelo resultado, mas por tornar divertidíssima a limpeza!). Quando finalmente encontramos a casa linda, a maior diversão foi mobiliar tudo de novo! A casa ficou ainda mais legal, e eu moraria lá de novo, se eu pudesse! Era uma casa tipicamente norte-americana, com tudo de bom. Que mais? Ah, sim, claro! Meu pai trouxe funcionários paraguaios e equatorianos pra trabalhar com ele, e um deles morava na rua que ficava atrás da nossa, e tinha 4 filhos, da minha idade pra baixo. Acabei ficando muito amiga da Romy, a filha mais velha do casal, e a Rê ficou amiga do Mitchell e da Jessica, da idade dela. Nos divertíamos MUITO, os cinco juntos! Outro funcionário tinha também uma filha da minha idade, a Adri, com quem também me diverti demais. Na perua que nos levava pra escola, conhecemos a Lu, uma brasileira que também morava na rua de trás, e com quem brincamos muito. Através dela conhecemos outros brasileiros, e um pessoal bem grande ia toda tarde brincar com a gente lá em casa. Foi uma época muito feliz. Ganhamos bicicletas, e fazíamos bicicross com os meninos, além de sairmos pra explorar as redondezas. Com meus pais, tomávamos sorvetes divinos nos finais de semana, ouvíamos muito Beatles, viajávamos para o país inteiro nos feriados, e fazíamos equitação. Morro de vontade de voltar a andar a cavalo, aliás! Na escola as coisas foram um pouco melhores que no Paraguai, e fizemos alguns amigos, entre eles a Rosario, minha amigona. Passamos mais de um ano na Guate, e era tudo muito gostoso. Meus pais tinham uma vida social bem mais ativa, e nós também. Nunca vou esquecer todos os amigos que fiz lá, nem minha combinação de roupa preferida e mais usada de todos os tempos: saia jeans, blusa amarela de linha e sapato amarelo da minha mãe, nem a Mari (uma moça deveram legal que trabalhava pra gente), nem os aniversários no MacDonald’s, nem as andanças pelo mato que tinha perto de casa. Foi lá que eu ‘fiquei mocinha’ (que coisa mais estranha!), que cortei a perna e adquiri esta cicatriz enorme que me acompanha até hoje, que comi muita quesadilla e tortilla com frijoles y queso, que tive meus primeiros namoradinhos, que tivemos tartarugas e esquilos, que comecei a ouvir música pop dos anos 80, que fiz peças de teatro e mini musicais com a Romy, que passei os primeiros Helloweens em que nos fantasiamos pra pedir doces nas redondezas, que vi filmes de terror na casa dos Martínez (pais da Romi), que comi muitos doces porque minha mãe fez curso de pirulitos e balas e bombons e bolos e afins, que viajei muito, que li o mais famoso livro da Loise M. Alcott mais de trinta vezes, que comecei a colecionar uns gibis que contavam a história da abelha Maya, que meu pai comprou um Macinho (o primeiro!) de quarta mão, que fomos pegos de surpresa pelos guerrilheiros, que minha mãe deu meu cobertor preferido, que comi suspiro cor de rosa e obleas, que os mariachis vinham tocar e cantar nos aniversários, sendo seguidos de centenas de fogos de artifícios... Nossa... tem muita história pra contar, daquele lugar maravilhoso e daquela vida sensacional.