Vou precisar colocar isso aqui... é este artigo, do Gustavo Ioschpe, que li ontem e achei genial:
“Fim-de-semana passado fui num concerto que me apresentou uma garota prodígio, uma violinista de 20 anos chamada Hilary Hahn, que executou o concerto de Beethoven com maestria impressionante. Sempre que me pego em frente a pessoas assim, tenho duas reações. A primeira é de inveja, por saber que essa menina conseguiu aos 20 anos aquilo que eu não vou conseguir nem aos 70. A segunda é uma inevitável curiosidade: como é que ela descobriu que o seu dom era tocar violino?
Sempre fui fascinado pelos caminhos do acaso. De vez em quando me pego pensando quantos virtuosos potenciais devem existir que nunca encontraram seu destino. Será que o seu irmão não é o maior tocador de tuba da história da humanidade, mas a gente ainda não sabe, e talvez nunca saberá, porque ele jamais pegará uma tuba na vida? Sem falar nos acasos que acometem mesmo os gênios. Michael Jordan, por exemplo, foi parar no basquete quando foi cortado do time de baseball. E se o pai de Tiger Woods tivesse sido um fanático pelo bingo ao invés do golfe, não teríamos aquele que provavelmente será o melhor golfista de todos os tempos? E se Thomas Edison não tivesse sido expulso da escola aos oito anos, teria inventado a lâmpada? E se Newton não tivesse sido um quase natimorto, abandonado pela mãe - teria trabalhado com a intensidade louca que o fez quase que revolucionar o universo? Enfim, esse casamento da pessoa com a sua vocação me deixa angustiado, por já ter quase certeza de não ter vocação pra nada e ter um desejo de fazer tantas coisas...Haverá algum momento em que todos passamos perto daquilo que é nosso destino, e há um ímã que nos atrai? Mas como acreditar nisso, se não se acredita em predestinação, em desígnios divinos? Como reconciliar essa vã esperança com a sapiência de que a vida não é justa, não, e que tudo não acaba bem como nos filmes açucarados?
E esse pensamento leva, inevitavelmente, pra outro, seu parente próximo: existe a pessoa certa, a alma gêmea? Como identificá-la? Pra você que não acredita em Paulo Coelho e sua teoria de que a alma, quando morre, é separada em duas partes que se procuram na encarnação seguinte, sendo identificadas através de uma aura azul - aliás, a teoria infeliz nem dele é, só imitou discurso que até personagem d'O Simpósio, de Platão, já dizia, sem a infelicidade da aura azul - como saber que encontrou a pessoa certa? Como saber que aquela, entre as quase três bilhões (bilhões!) de almas do sexo oposto que circulam no mundo todos os dias, é exatamente a destinada a fazer sua felicidade eterna? E se a minha mulher ideal estiver nas Filipinas, e eu nunca ir pras Filipinas? E se você achar que não há pessoa certa, como viver com alguém enquanto pensa em perscrutar o mundo todo por alguém talvez um pouco melhor, com tudo aquilo que o seu amado(a) atual tem, mas que também goste do John Coltrane?
São duas daquelas perguntas que não tem resposta, mas pras quais a gente tem de criar uma, senão a vida fica impossível. E só posso aqui ficar aberto às sugestões dos outros, e compartilhar a minha, a que me deixa em paz. É ela: quando há paixão, siga em frente. E quando não há, vá embora. Todas as nossas decisões podem ser extremamente racionais e elaboradas, mas se reduzidas ad infinitum vão sempre se resumir àquele friozinho na barriga, aquela sensação inexplicável e indescritível de que é isso mesmo, como quando você saiu pedalando com a bicicleta sem rodinhas pela primeira vez, ou pulou do colo do pai e foi nadando onda adentro. Pode ser que mude daqui a algumas décadas, mas por enquanto aposto todas as minhas fichas na paixão. Paixão e coragem. Muita coragem. O resto virá.”
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